sábado, 15 de março de 2014

ROGER CORMAN, TARANTINO E ALMODÓVAR CONHECEM A "DIABA" DE ANTÔNIO CARLOS (DA) FONTOURA?

Jamais esquecerei o impacto que experimentei ao ver A Rainha Diaba (1973), de Antônio Carlos Fontoura. É um filme visceral, único! O roteiro, do próprio diretor, valoriza o original de Plínio Marcos ao conduzir o espectador por uma viagem alucinada, sem comiseração, ao submundo carioca povoado por pivetes, traficantes, assassinos, prostitutas e bonecas dos mais variados matizes. Poucas vezes o improviso e as carências materiais de uma realização somaram tantos pontos a favor do fator originalidade. Os atores brilham em desempenhos inspirados e envolventes. Milton Gonçalves, na pele do personagem título, nunca esteve tão bom. Há 38 anos, ao sair da sala de exibição, pensei: "Roger Corman precisa ver este filme". Hoje, acredito que recicladores como Quentin Tarantino e o transgressor Pedro Almodóvar em início de carreira também deveriam. Não é filme para quem acredita — equivocadamente — que o cinema, não importando temas, tratamentos e situações, deve ser exercício de "bom gosto". O diretor atualmente assina como Antônio Carlos Da Fontoura. A apreciação é de 1977.







A Rainha Diaba

Direção:
Antônio Carlos Fontoura
Produção:
Roberto Farias, Antônio Carlos Fontoura (não creditado), Paulo Porto (não creditado)
Cinematográfica R. F. Farias, Canto Claro Produções Artísticas, Filmes De Lírio, Lanterna Mágica, Ventania Filmes
Brasil — 1973
Elenco:
Milton Gonçalves, Nélson Xavier, Odete Lara, Iara Cortes, Wilson Grey, Stepan Nercessian, Lutero Luiz, Edgar Gurgel Aranha, Geraldo Sobreira, Quim Negro, Sidney Becker, Nilson, Fábio Camargo, Selma Caronezzi, Isolda Cresta, Haroldo de Oliveira, Letícia de Souza, Perfeito Fortuna, Arnaldo Moniz Freire, Arthur Maia, Sônia Maracajá, Procópio Mariano, Luiz Mendonça, Júlia Moreno, Zezé Motta, Banzo Negro, Paulo Neves, Paulo Roberto, André Paúra, Pedro Pecado, Nilson Pena, Hilton Prado, Carlinhos Prieto, Marquinhos Rebu, Zé Roberto, Samuca.



Antônio Carlos Fontoura, atual Da Fontoura, em 1976, quando da realização de Cordão de ouro.



Uau! Disse-me isso ao término da projeção de A Rainha Diaba. No imenso Cine Brasil de Viçosa/MG eu resistia, atentamente, como se estivesse em transe, entre os poucos espectadores que acompanharam a exibição até o fim. Estava lívido. Até então, a nada parecido fora submetido numa tela de cinema. O segundo longa metragem de Antônio Carlos Fontoura[1] é uma joia e, ao mesmo tempo, um petardo de alto potencial explosivo e revelador. A realização, roteirizada pelo diretor a partir de argumento encomendado a Plínio Marcos — ambos são responsáveis pelos diálogos —, assemelha-se a uma farsa folhetinesca encenada no violento submundo carioca povoado de marginais de baixa extração e alimentada por uma mistura de sangue quente e vísceras à mostra. Tudo muito ao gosto das reportagens típicas de veículos sensacionalistas como O Dia e Luta Democrática, sempre ditosos na descrição exacerbada de cotidianos largados à penumbra, sujeira e falta de qualquer resquício de comiseração. Mas o que sobressai é, principalmente, a vontade sem medo de fazer cinema, mesmo que isso obrigue a recorrência aos imprevistos da improvisação em virtude da falta de recursos. Ao sair da sala de exibição, pensei: "Roger Corman precisa ver esse filme!".


Uma criatividade sui generis irriga os planos e sequências de A Rainha Diaba, tão ousado na exposição dos sombrios desvãos povoados por traficantes, pivetes, assassinos, assaltantes, cafetinas, prostitutas e bonecas. Não é filme a ser apreciado por qualquer um, principalmente pelo espectador equivocado, iludido na crença de que o cinema — e outras artes — deve ser, sempre, não importando temas e tratamentos, um exercício de bom gosto segundo a cartilha de normas e etiquetas da puerilidade pequeno burguesa. Pois o mau gosto impera em A Rainha Diaba. É um dos elementos que atribui ao exercício fílmico de Antonio Carlos Fontoura aquele algo mais em termos de originalidade, tornando-o tão surpreendentemente único. O brega predomina na cenografia farta na utilização de materiais baratos de papelaria como crepom e cartolina, ilustrados por motivos tingidos de cores fortes e quentes. A visceralidade mais intestina aflora dos golpes de navalha e tiroteios, mas também marca presença nos diálogos tensos e em expressões que prenunciam tratamentos personalizados, sempre à flor da pele. Os personagens homossexuais são retratados além do limite da afetação e beiram o caricato mais grotesco, a ponto de incomodar o espectador. As canções, em ritmos de boleros, guarânias e tangos, não economizam na distribuição de lágrimas e penares.


Milton Gonçalves, na melhor interpretação de sua carreira, é a Rainha Diaba 


Para surpresa de muitos, A Rainha Diaba recebeu do Instituto Nacional de Cinema (INC) o Prêmio Adicional de Qualidade de 1974. Do mesmo organismo, o endiabrado Milton Gonçalves, pelo papel-título, foi agraciado como Melhor Ator ao passo que Odete Lara e José Medeiros receberam as láureas, respectivamente, de Melhor Atriz e Melhor Fotografia. Em 1975, no Festival do Cinema Brasileiro de Brasília, o filme levantou os prêmios Candango de Melhor Roteiro (Antônio Carlos Fontoura), Melhor Ator (Milton Gonçalves), Melhor Atriz (Odete Lara), Melhor Fotografia, Melhor Cenografia (Ângelo de Aquino) e Melhor Trilha Musical (Guilherme Magalhães Vaz). Em 1974 Milton Gonçalves conquistou o VIII Prêmio Air France de Cinema como Melhor Ator e Odete Lara o Prêmio de Melhor Atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). No plano internacional, A Rainha Diaba marcou presença na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 1974 e, em 1975, no Festival de Cinema de San Sebastian[2].


Antônio Carlos Fontoura, até o momento, realizou poucos filmes. Estreou no longa metragem seis anos antes de A Rainha Diaba, em 1967, com um drama existencial que marcou época, situado na Zona Sul carioca: Copacabana me engana — retrato desencantado sobre a falta de rumo e ideais da juventude de classe média. Seu terceiro longa, Cordão de ouro (1976), dialoga com o rico universo da cultura popular e aguarda espaço para estrear no circuito comercial[3]. Fontoura militou no Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE) como ator e autor teatral. Escreveu críticas de cinema para jornais cariocas e realizou os bem acabados curtas Heitor dos Prazeres (1965), Ouro Preto e Scliar (1965), Meu nome é Gal (1970) e Chorinhos e chorões (1974)[4].


A Rainha Diaba apresenta a persona do título levemente inspirada na trajetória e caráter do lendário, caprichoso e violento Madame Satã, marginal carioca expert da navalha e de gingas de capoeira, responsabilizado, entre outros crimes, pela morte do compositor Geraldo Pereira. Enquadrado como "perigoso pederasta" pela polícia do Rio de Janeiro, então Capital Federal, Satã era cercado por um séquito de mulheres da vida e marginais diversos que lhe garantiam o sustento e aos quais, em contrapartida, fornecia proteção. Do mundo real do personagem, Plínio Marcos e Antônio Carlos Fontoura aproveitam a ambientação dos inferninhos e sobrados decadentes, além da caprichosa malemolência que enforma a caracterização do vingativo, cruel e individualista agenciador de prostitutas, protetor de bonecas e travestis, traficante e explorador de muitas bocas de fumo vivido com arrojada desenvoltura por Milton Gonçalves. A abordagem recusa inteligentemente o tom realista para optar pela exagerada e estilizada alegoria de visual cafona. Mesmo assim, a história dialoga com a atualidade carioca estampada cotidianamente nas páginas policiais dos jornais: a escalada da violência em sua relação com o tráfico de drogas, principalmente as lutas fratricidas pelo controle de pontos de distribuição que acontecem nesse meio.


Milton Gonçalves - excelente! - é o personagem título


As primeiras imagens, desde os títulos de abertura, antecipam o que será visto. Os créditos são exibidos sobre cartolinas de coloridos diversos, ilustradas por motivos típicos dos panos de mesa e cozinha tão ao gosto dos setores populares. Enquanto isso, Paulo Sérgio canta o sucesso Índia. A interpretação ultrapassa a apresentação dos letreiros. Vê-se que decorre de disco executado em barata eletrola portátil. A câmera mostra um bordel. Garotas bem comportadas distraem a clientela. Mas logo o som é interrompido por Violeta (Cortes), que pede a todos a desocupação do recinto, pois "As visitas da Rainha estão chegando". O que se vê daí é a antológica entrada em cena de muita gente feia e mal encarada: Manco (Grey) e Anão (Luiz) à frente, seguidos por outros marginais, todos exibindo armas e se mirando calados e taciturnos. São gerentes do tráfico comandado pela Rainha Diaba. Vieram prestar contas das atividades. O chefe os aguarda num quarto nos fundos do bordel, no qual, vaidoso, afetado e manhoso, recebe tratamento de beleza de Lilico (Prieto).


Diaba (Milton Gonçalves) e Manco (Wilson Grey)


Diaba é, guardadas as devidas proporções, uma espécie de Don Corleone[5] desprovido de traquejo e racionalidade. Mas tem muito poder de decisão e convencimento. Reage emocionalmente, quase sempre apelando para golpes de navalha em rompantes desmedidos de violência. É extremadamente despótico e cioso no controle de seus negócios. Ao receber os informes de seus imediatos, demonstra preocupação com o futuro do preferido Robertinho (Moniz Freire), prestes a cair nas mãos da polícia pelo descuido de traficar em escolas. A prisão deve ser evitada. Todos devem protegê-lo. Com a ajuda do lugar-tenente Zeca Catitu (Xavier, estupendo!), Diaba concebe a fabricação de um bandido para lançar à polícia e, assim, desviar as atenções sobre o comparsa. Começa aí um jogo de gato e rato nos quais os papéis do roedor e felino continuamente se alternam.


Esbanjando talento: Nélson Xavier é Catitu; Stepan Nercessian é Bereco


Bereco (Nercessian), cafetão sustentado pela prostituta e cantora de inferninhos Iza Gonzales (Lara), é o otário com pinta de garotão guindado ao posto de boi de piranha. Atraído a se integrar à quadrilha liderada por Catitu, é testado numa sucessão de assaltos a postos de gasolina, farmácias, padarias e caminhões de transporte. Não demora a se ajustar ao metieur. Picado pela mosca da ambição, logo revela disposição para trilhar a rota da autonomia. Assalta as bocas de fumo de Diaba. Ganha notoriedade. É perseguido pela polícia. Enquanto isso, o também ambicioso Catitu atrai para si os insatisfeitos homens do chefe. Pretende destroná-lo fazendo uso de Bereco, ainda desconhecido ao personagem de Milton Gonçalves.


Entretanto, cada vez mais preocupado com o esvaziamento das suas bocas, Diaba lança em campo, à cata de informações, um fiel séquito de dondocas e bonecas dispostas a tudo. Capturam Iza, promovida por Bereco à distribuidora das drogas roubadas. Segue-se uma sequência pelo visto até então inédita nos cinemas brasileiros, ainda mais em plena vigência da truculenta arbitrariedade do regime militar: a tortura da cantora, em cenas exageradamente estilizadas. Num salão de beleza, é queimada com pontas de cigarro e alisadores de cabelo. Entrega Bereco, antes de ter o rosto desfigurado à navalha.


Diaba (Milton Gonçalves) e Iza (Odete Lara)

Iza (Odete Lara) é torturada por protegidos de Diaba (Milton Gonçalves)


O filme se encaminha a um final apoteótico e operístico, banhado em muito sangue, com o cruzamento de seus eixos narrativos. Apanhado por Catitu e seus cúmplices, Bereco é convencido a se introduzir no esconderijo de Diaba e eliminá-lo. Acreditando que deu conta do recado, termina assassinado por Catitu. Este comemora a inútil vitória, pois é mortalmente envenenado, com todos os seus homens, por Violeta. Mas eis que surge Diaba, banhado no sangue das navalhadas recebidas de Bereco. Ainda tem forças para matar a infiel. A seguir, num trágico último ato, cai morto sobre a pilha de cadáveres. Ninguém sobrevive para contar a história.


Diaba (Milton Gonçalves) conhece Bereco (Stepan Nercessian)



O argumento de Plínio Marcos é primoroso e magistralmente encenado por Antônio Carlos Fontoura. A multiplicação da narrativa em muitos focos, sem que um se sobressaia sobre os demais, permite aos atores um grau de liberdade como poucas vezes se viu para a criação de seus personagens. Se Milton Gonçalves e Nélson Xavier brilham, o mesmo acontece com Stepan Nercessian e Odete Lara, responsáveis pelos papéis-líderes em seus segmentos. Todos, por sua vez, oferecem a deixa a um talentoso naipe de coadjuvantes, também estimulados a revelar o potencial interpretativo. Milton Gonçalves é digno de louvor pela coragem de representar um tipo que poderia estigmatizá-lo. Quantos outros teriam tal destemor? Nelson Xavier nunca decepcionou. Mas, aqui, está maravilhosamente bem na interpretação de um marginal sagaz e envolvente. Odete Lara, em atuação intensa, não depende somente da expressão, mas da capacidade de evoluir em cena com o corpo inteiro, seja nas lutas encenadas com Bereco ou nos momentos de cantoria no cabaret gostosamente intitulado Leite da Mulher Amada. Stepan Nercessian pulsa, emprestando confiabilidade ao garoto elevado da simples condição de parasita de mulheres ao posto de perigoso e ativo marginal. E Wilson Grey? O que dizer de seu Manco ou de sua capacidade de ator camaleônico, apesar de sempre relegado aos pequenos mas grandes momentos, aqueles que podem, com uma simples presença, redimir uma produção inteira? Vê-lo em cena, por menor que seja a atuação, será sempre experiência ímpar.


Iza (Odete Lara) come o pão amassado pela Rainha Diaba


A produção, como de praxe, lembra que os personagens são fictícios. Até certo ponto, talvez! Os jornais seriam os primeiros a desmentir a advertência. Os tipos em cena são profundamente brasileiros no que tange ao caráter apresentado. Tanto Diaba como Catitu revelam os traços do "homem cordial" exposto por Sérgio Buarque de Holanda em seu seminal Raízes do Brasil. São cordiais não no sentido de serem cordatos e gentis — qualidades que enfaticamente não possuem — e, sim, por negarem a racionalidade impessoal e objetiva no direcionamento de suas ações, segundo o entendimento do autor. Deixam-se guiar por pulsações sanguíneas. São extremamente apaixonados e emotivos, despóticos e caprichosos. Estão presos às determinações do coração. Diaba é perfeito exemplo disso em sua volubilidade. Protege Robertinho, por quem sente afeição. Porém, não titubeia em cortá-lo à navalha quando é decepcionado. Catitu age no mesmo diapasão com sua envolvente malemolência, principalmente quando lança a mosca azul sobre Bereco.


Milton Gonçalves é a Rainha Diaba


Roteiro: Antonio Carlos Fontoura, com base em argumento de Plínio Marcos. Diálogos: Plínio Marcos, Antônio Carlos Fontoura (diálogos adicionais). Produção executiva: Maurício Nabuco. Música: Guilherme Magalhães Vaz. Direção de fotografia (Eastmancolor): José Medeiros. Montagem: Rafael Justo Valverde. Cenografia e figurinos: Ângelo de Aquino. Maquiagem: Carlos Prieto. Gerente de produção: Antônio Calmon. Assistente de direção: Emiliano Ribeiro. Operador de câmera: Ronaldo Nunes. Coordenação de produção: Orlando Bonfim. Planejamento de créditos: Ângelo de Aquino, Renato Landim. Continuidade: Plínio Marcos. Fotografia de cena: Edson Santos. Direção de som: Alberto Vianna. Créditos: Renato Landim. Tempo de exibição: 106 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1976; atualização por notas de pé de página em 2014)




[1] Atualmente, o diretor se apresenta como Antônio Carlos Da Fontoura.
[2] Passados alguns anos da elaboração deste comentário, A Rainha Diaba integrou a mostra 80 Ans de Cinéma Brésilien promovido em Paris pelo Centro Georges Pompidou, em 1978. Em 1999, marcou presença na mostra binacional Black Roots/Racines Noires exibida em Milão e Paris.
[3] Visto em 1977, Cordão de ouro se revelou decepcionante em suas interpretações canhestras, falta de dinamismo e fluência narrativa.
[4] A partir de 1977, Antônio Carlos Fontoura, contratado pela TV Globo, escreveu episódios das séries Ciranda, cirandinha e Plantão de polícia. Na década de 90, para a mesma emissora, elaborou roteiros para o interativo Você decide, cujo final dependia da escolha dos telespectadores. Para o cinema realizou, em 1982, o pouco visto média metragem Brasília segundo Alberto Cavalcanti. A seguir vieram os longas Espelho de carne (1984), curioso misto de terror e drama erótico, e o frustrante Uma aventura de Zico (1988). Ainda desconheço suas últimas atividades cinematográficas: Gatão de meia idade e No meio da rua, ambas de 2006, e Somos tão jovens (2013).
[5] Capo de uma família mafiosa vivido por Marlon Brando em O poderoso chefão (The godfather, 1972), de Francis Ford Coppola.

2 comentários:

  1. Caramba! Quanto submundo! Acho que a associação que você fez foi bem propícia! O Plínio parece ser um sujeito que não faz concessões. Se o exportassem, certamente iam colocar o Lou Reed pra integrar ao menos uma ♫ da trilha. Impressionantes os truques armados e a passionalidade de algumas personagens no enredo.
    Tava vendo-o em 91, quando a Manchete passava todo sábado o cinema nacional. Boa a estética setentista.
    Soam como três diretores que devem gostar. O Corman acompanhei mais de perto, claro, em sua célebre dupla com o Phibes.

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    1. Olá, Hilton Neves;

      Tive o choque e o prazer de conhecer pessoalmente o Plínio Marcos quando ele esteve em Viçosa/MG, na universidade Federal de lá, em 1977, durante uma QUINZENA CULTURAL patrocinada pelo DCE. De fato, é um cara que não fazia concessões a nada. Sem papas na língua também. Não podia ser enquadrado em nenhum escaninho, pensando evidentemente em direita e esquerda. Os dois lados ele os reduzia literalmente a pó, sem deixar que sobrasse coisa alguma no meio. Foi chocante a maneira como demoliu as idéias prontas, de cartilha, trazidas ao debate por moralistas da esquerda que, empiricamente, pouco sabiam do "povo" e de suas reais condições de vida. A RAINHA DIABA ainda é um filme poderoso para mostrar o quão distante os letrados como nós estão do submundo. Esta realidade, dado o avanço do tempo - o filme é de 1973 - está cada vez mais longe da gente. Hoje, certamente, o dado chocante de Plínio, na visão de Antônio Carlos da Fontoura, pode até ser creditado na conta de um passado romântico.

      Quanto ao Roger Corman, tente ver as adaptações de obras de Edgar Allan Poe que ele pessoalmente levou às telas na primeira metade dos anos 60. Formam um conjunto de aproximadamente 8 filmes, por aí, creio.Todos são interpretados pelo Vincent Price, como também creio. As lembranças estão esmaecidas.

      Abraços.

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